quinta-feira, 1 de maio de 2008

Filhos


É uma dor crescendo
Um aperto no útero
Um desconsolo no peito
Saudade dos meus meninos
Crianças
Que eu podia ninar

Crianças
As embalamos no colo
Secamos suas lágrimas
Sopramos o remédio
Direto na dor
São nossas as mãos que procuram
Quando tropeçam nas pedras

Crescidos choram escondidos
Rejeitam tua mão
Tuas palavras
São adultos
Não te reconhecem mais


Murcho o olhar sob a chuva
Embaçando a montanha
Que na rigidez de seu prumo
Me acolhe
Nesses dias de Inquisição
Não me condeno à fogueira
Fiz o melhor (que conhecia)

Retiro da farmácia o mercúrio
Que todas as feridas me ardam
Sangrem
Rasguem
Mas imploro cura para as deles.
Márcia Leite
(imagem: William Adolphe Bouguereau)

Um comentário:

Sayonara Salvioli disse...

Márcia,
É um prazer visitar seu blog, tão recheado que é de poesia das boas: com essência, expressão, encanto pela vida!...
Com este post também me identifiquei bastante, já que comungamos o sentido da maternidade, ao qual nos doamos em concomitância às dádivas recebidas! Apesar de os filhos crescerem e se "espraiarem" por aí, sempre voltam para o nosso aconchego!!!
Virei sempre aqui para compartilhar do sentimento universal das "mulheres delirantes" que somos...
Passe também pelo meu blog!
Saudações poéticas :)