quarta-feira, 8 de julho de 2009

Eutanásia



Nada é dito no momento da partida
olhos refletem o tamanho do medo
os últimos mudos momentos
sabem à pedra de sal em boca seca
implora-se por um eclipse lunar
- deve ser sempre negra a lua não desejada
o cristalino corrompe o olhar futuro
as cores do céu seguinte já não farão diferença
as mãos se escondem por trás da saia
tateando o último fio de lucidez
que decretará o fim do que morre aos poucos
poemas rastejam no que restou de respiração
gotas d´água queimam as retinas
o peito guarda a palavra oculta
e o corpo oscila como pêndulo em mãos inexperientes
a porta é aberta e pode-se ver
que a vida parte deixando um pedaço
na cara do silencio que ficou para trás.
Márcia L in Versos Descarados

terça-feira, 7 de julho de 2009

Confessionário



te diria tanto (e ainda tão pouco...)
num monólogo
(de remorso e histeria)
versos tensos obscuros
obscenos
pausa em desespero
na tarde de verão
que molha o lençol
como palavras abortadas
antes de chegar às mãos
te diria vidas (faladas, escritas, lidas)
segredos de agora
pecados antigos
fantasmas dos dias (que não clareiam)
ousadas longas confissões
ungidas no suor e medo
- gotas rubras do terço da minha covardia
frente ao teu amor
(puro como hóstia de domingo)
te diria tanto (e ainda tão pouco...)
se a poeta fosse outra
se o vinho fosse seco
se a lua fosse cheia
se gostasses de livros
se a foda fosse inteira
se a rima fosse simples
se plural não existisse
se eu rezasse só Maria
sem Clarice.


Márcia Leite, Versos Descarados