sábado, 24 de março de 2012

Depois da chuva


“Quero dar graças ao divino...pelo mistério da rosa
que prodigaliza cor e que não a vê...” Jorge Luiz Borges, Outro poema dos dons.


não venhas hoje nem amanhã
deixe para depois do segundo dia
quando a vontade já quase morre
e os braços pendem exangues
por tanto terem te esperado

depois da ansiedade
quando as palavras
serão mais confiantes
para cruzar a fronteira
do medo à liberdade

depois da chuva
para que eu abra a janela
e te veja subindo a rua
como se fosses um marido
voltando à casa para o jantar

venha e deite comigo
quando o vinho adormecer
o remorso que guardo
desde o curupira assombrado
que temi acolher

e vá sem promessas ou desculpas
quando eu te abrir a estrada
onde vivem os segredos sagrados
de amores que sobrevivem sem corpos
e de rosas que morrem nos quartos.


Márcia Leite
Imagem: Dream, Matisse

4 comentários:

Unknown disse...

Lindíssimo, prezada poetisa!

Márcia Leite disse...

Muito obrigada, poeta Cristiano. Leia também o belíssimo poema de Borges mencionado no meu post. Um abraço.

Fred Caju disse...

Bem lírico mesmo. A segunda estrofe é avassaladora.

Márcia Leite disse...

Fred, obrigada pela leitura e comentário. A chuva forte traz muitas palavras, na verdade, a chuva goteja inspiração!abs