“Quero dar graças ao divino...pelo mistério da rosa
que prodigaliza cor e que não a vê...” Jorge Luiz Borges, Outro poema dos dons.
não venhas hoje nem amanhã
deixe para depois do segundo dia
quando a vontade já quase morre
e os braços pendem exangues
por tanto terem te esperado
depois da ansiedade
quando as palavras
serão mais confiantes
para cruzar a fronteira
do medo à liberdade
depois da chuva
para que eu abra a janela
e te veja subindo a rua
como se fosses um marido
voltando à casa para o jantar
venha e deite comigo
quando o vinho adormecer
o remorso que guardo
desde o curupira assombrado
que temi acolher
e vá sem promessas ou desculpas
quando eu te abrir a estrada
onde vivem os segredos sagrados
de amores que sobrevivem sem corpos
e de rosas que morrem nos quartos.
Márcia Leite
Imagem: Dream, Matisse
4 comentários:
Lindíssimo, prezada poetisa!
Muito obrigada, poeta Cristiano. Leia também o belíssimo poema de Borges mencionado no meu post. Um abraço.
Bem lírico mesmo. A segunda estrofe é avassaladora.
Fred, obrigada pela leitura e comentário. A chuva forte traz muitas palavras, na verdade, a chuva goteja inspiração!abs
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