“Há em tudo um limite que é perigoso transpor, porque, uma vez transposto,
já não há processo de voltar-se atrás.” Dostoiéviski
a chuva fere a pele recém depilada
a luz do poste é bem vinda na escuridão
o rapaz de vestido vermelho e boca coral
enxuga o sorriso que as lágrimas da noite desfez
a moça do interior ajeita o aplique
retoca os lábios rachados pelo sol da lavoura
as mãos percorrem o próprio corpo à visão do passante
e o estômago ruge como rugia o arado nos campos
o mendigo se aquece na loucura
os letreiros não mais iluminam Madame Satã
a morte não vem do fio da navalha
está no abismo dos prazeres imediatos
morta a juventude, os sonhos, a lucidez
sob a maldição de Dostoiéviski
os limites transpostos se fecham à possibilidade de volta
e a tragédia humana afoga as almas na madrugada.
Márcia Leite
Imagem: Madame Satã, http://nandofilosofo.flogbrasil.terra.com.br/foto16674457.html
Walk on the wild side é o título de uma canção de Lou Reed, inspiração para este poema.
4 comentários:
Salve poeta! Tu não vieste ao mundo para ser pedra. Apesar de empedernir as palavras na prisão perpétua da condição humana. Tu separas, delicadamente, como artesã perfeita, o teu lugar de origem. “os limites transpostos se fecham à possibilidade de volta e a tragédia humana afoga as almas na madrugada” Mozart
Salve Marcianita, vc como sempre me causando espanto. O feminino é plural e vc sabe das coisas. me senti encostado aos postes sem semblante, sem lembranças ancestrais e sem lentes. procuro-me... 10 moça, bjs sg
este será o 3º - espanto puro, me vi encostado aos postes sem lembranças e sem limites ancestrais, vc sabe ser o feminino, bjs sg
Sem fôlego, entrego-me às palavras nuas...
A dose certa. Enlouqueço.
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