a José Leite
o bambuzal dança no sulporque a divindade está no sopro
indicando o caminho
fecho a porta e rumo ao norte
em busca de mim
vou trançar os dedos
nas raízes de meu pai
fincar o estandarte vermelho
na fenda das minhas dores
comer a flor de cactus
desaguar minhas vergonhas de sulista
cavar a terra com as mãos de José
para ver brotar o açude mágico
que matará minha sede de justiça
correr entre os pés de mandioca braba
pintar meu rosto com o pó da terra
olhar o mundo com os olhos d’água de Joana
para melhor entender os homens
deitar na caatinga
banhar meu ventre no luar do sertão
reparir meus filhos
e crescer.
Márcia Leite, em Versos Descarados, Ed. OFICINA, RJ 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário