terça-feira, 7 de julho de 2009

Confessionário



te diria tanto (e ainda tão pouco...)
num monólogo
(de remorso e histeria)
versos tensos obscuros
obscenos
pausa em desespero
na tarde de verão
que molha o lençol
como palavras abortadas
antes de chegar às mãos
te diria vidas (faladas, escritas, lidas)
segredos de agora
pecados antigos
fantasmas dos dias (que não clareiam)
ousadas longas confissões
ungidas no suor e medo
- gotas rubras do terço da minha covardia
frente ao teu amor
(puro como hóstia de domingo)
te diria tanto (e ainda tão pouco...)
se a poeta fosse outra
se o vinho fosse seco
se a lua fosse cheia
se gostasses de livros
se a foda fosse inteira
se a rima fosse simples
se plural não existisse
se eu rezasse só Maria
sem Clarice.


Márcia Leite, Versos Descarados

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