domingo, 13 de abril de 2008



Para a mulher, basta conhecer bem um único homem para entender todos os homens; enquanto que um homem nunca entenderá nenhuma mulher, mesmo que conheça todas elas. HELEN ROWLAND

Vestido Vermelho
(à Cléa)

É preciso sobreviver à carne
reforçar as doces lembranças
resgatar a alma do limbo
viver – no abraço do homem ocasional
todos os delírios amorosos já escritos
reverenciar os gozos
desobstruir a veia que os alimenta
fazer jorrar a fonte dos desejos
não respirar pausas ou arrependimentos
nem alternativas ao que se completou
dissecar os retrocessos
desistir de reencarnações
tocar a vida como se única
apostar no momento
criar um mantra delicado
(repeti-lo ao pé do próprio ouvido
nas noites sem amante)
alongar os músculos da pélvis
exercitar os gemidos noturnos
(para as próximas viagens)
deixar crescer os cabelos
às mãos do amor seguinte
não recusar eventuais parceiros de sonhos
acreditar que a lua brilha só por você
e que o sol aguarda ansioso sua vez
aceitar o ombro que se oferece
chorar a lágrima da adolescência
sorrir a piada da vida
escolher a fantasia de colombina
beijar o arlequim e o pierrô
autopsiar os medos
ser mórbida e obscura
para seduzir os complicados
lúcida e equilibrada
para os analisados
comprar uma manta de lã
para as tardes frias das carências
escalar a montanha do tempo
leve como quem dança
e ousar – sempre - um vestido vermelho
no final de um poema.
Márcia Leite

Nenhum comentário: